Tópicos em Sociologia XIV: Os “inúteis” para o mundo: mendigos, prostitutas, migrantes,
desempregados, miseráveis e outros que não são chamados para a ceia de natal.
Prof. Dario de Sousa e Silva Filho. ª M3/6- Código da
disciplina: IFCH026890
No final do século XIX, o chefe
de polícia de Paris desenvolveu uma estratégia de controle radical. Em vez de priorizar investigações
preferiu mandar prender e degradar para as colônias na África ou nas Guianas as
prostitutas e os mendigos. Manicômios e asilos retiravam de cena os
homossexuais, mulheres insubmissas e órfãos. O chefe da polícia justificou sua
estratégia:
“ É preciso agir com rigor com esses. Pois
quem nada tem nada teme”.
A sociologia latinoamericana
desenvolveu teorias sobre marginalidade e, mais recentemente, teóricos
contemporâneos europeus trataram do conceito de exclusão. Ainda assim, as
democracias modernas negligenciam a segregação, criminalizam a pobreza,
remontam aos tempos dos manicômios com soluções de internação compulsória dos
indesejáveis. Aqueles que Castel chamou de “supranumerários” ou “inúteis para
ao mundo”não vivem uma sina recente. No entanto esta sina deixou de ser um
drama periférico ou das primeiras horas das sociedades urbanas. Virou regra.
Sua destituição e vulnerabilidade renitentes põem em cheque a contemporaneidade
que promete integração pela globalização, redução das fronteiras e produz
economicamente como nunca antes na história. A mundialização do fenômeno
renomeia a sociabilidade nos países em que a figura do “outro” não funcional se
converte em um outro indesejável.
O objetivo do curso é debater
leituras críticas das sociedades modernas e interpretações sobre a capacidade
criativa e reflexiva dos “que nada têm”.
O pressuposto é que o mundo dos excluídos expõe os limites da democracia
e das ilusões de segurança dos incluídos.
Sugestão de bibliografia (Onde não especificado, serão selecionados
capítulos dos livros):
BOURDIEU, Pierre. A Miséria do
Mundo. Petrópolis, Vozes, 1997.
CASTEL, Robert. “Os
supranumerários” in As Metamorfoses da Questão Social_ Uma crônica do Salário.
1998.
ENGEL. Magali. Meretrizes e
Doutores: Saber Médico e Prostituição no Rio de Janeiro (1840-1890). São
Paulo: Brasiliense, 1989.
ESCOREL. Sarah. “Rua e Movimento:
Vivendo em Público na Eternidade do Transitório” in Vidas ao Léu_ Trajetórias
de Exclusão Social. Editora FIOCRUZ. 1999.
GOULD, Stephen Jay. “Dois estudos sobre o caráter Simiesco dos
Indesejáveis” in A Falsa Medida do Homem. São Paulo, Martins Fontes, 2003.
GOULD, Stephen Jay. “ A Filha de
Carrie Buck” in O sorriso do Flamingo. São Paulo. Martins Fontes, 1990.
ROUDINESCO, Elisabeth. A Parte Obscura de Nós Mesmos. Uma história
dos perversos. Rio de Janeiro, Zahar, 2007.
SANTOS, Beatriz Brandão dos. Me
Chama Pelo Nome- Juventude Vulnerável
entre Muros e Esquinas do Rio e de Roma. Caps II-III. Dissertação de Mestrado.
Rio de Janeiro, PPCIS-UERJ, 2013.
SENNET, Richard. A corrosão do
Caráter. Rio De Janeiro, Record, 1999.
SOUZA, Jessé. A Ralé Brasileira_
Quem é e como vive. Belo Horizonte, Editora UFMG. 2009.
SILVA, Dario de Sousa e. Feios,
Sujos e Malvados_ Os sem teto e o mundo do trabalho na rua. Cadernos de
sociologia e Política. Rio de Janeiro IUPERJ. 2002. (versão digital em http://biblioteca.clacso.edu.ar/subida/Brasil/iuperj/20100331014216/05-06.pdf.ori)
ZALUAR, Alba. Integração
Perversa: Pobreza e tráfico de drogas. Rio de Janeiro. FGV, 2004.