Disciplina: Imagens
de Guerra ou Representando a dor do outro
Tópicos Especiais em Sociologia XXXII, código IFCH 02 10729
Palavras-chaves: memória coletiva, mídia, representação,
comunicação, escravidão, ditadura militar, memória entre gerações, violência,
memoriais, fotografia.
Professores: Maurício
Barros de Castro e Myrian Sepúlveda
dos Santos
Número de créditos: 4 (quatro), 60 horas, 15 sessões
Período: 1º semestre de 2013 (2as feiras – 13h20 – 17h)
Objetivo:
Como denunciar crimes contra a humanidade através de
imagens. Se a representação do outro é sempre complicada, a representação da
“dor do outro” é mais ainda. Quando vemos a imagem de um corpo destroçado, devemos
nos perguntar quem foi o autor da imagem, qual seu propósito, para quem ela
está sendo divulgada e quais os seus possíveis impactos e consequências. O que
um memorial que se propõe a denunciar as torturas da ditadura militar deve
apresentar aos visitantes? Como podemos trazer os grandes crimes associados à
escravidão para o tempo atual? As
imagens de escravos no tronco proporcionam indignação e repúdio ou reiteram a
subordinação do negro ao sistema? Se a escravidão teve seus responsáveis, quem
são eles?
Lembrar para não repetir. Atrocidades que não têm registros
são mais facilmente esquecidas. Crimes contra a humanidade precisam fazer parte
de um imaginário coletivo, de uma consciência crítica coletiva. Contudo,
lembrar é uma prática complexa. O que sentimos quando olhamos fotografias de
corpos violados, feridos, mutilados por guerras, e por todo tipo de tortura?
Será que todos nós sentimos a mesma coisa? Essas fotos trazem o terror para
dentro de nós ou proporcionam uma curiosidade mórbida? Elas nos tornam
solidários com as vítimas ou nos distanciam delas? Elas causam sofrimento ou servem
apenas para liberar emoções de indivíduos robotizados, que não são mais capazes
de sair às ruas e enfrentar o perigo da vida? Imagens de guerra denunciam o
terror ou simplesmente o reiteram e o banalizam? Elas chocam o observador ou
tornam o terror familiar ao reproduzi-lo à exaustão?
Como lidar publicamente, e por meio de imagens, com a dor do
outro? Quem expõe o corpo dilacerado preocupa-se com a dor que estas imagens
provocarão naqueles que são próximos da vítima? O corpo dilacerado tem nome e
identidade? Como seria fotografar e divulgar corpos em sofrimento de pessoas
próximas? O que separa o desejo da denúncia da indecência do co-espectador?
Se partirmos da premissa de que imagens, sejam elas de
fotografias ou filmes, não são leituras neutras do real e que seus efeitos e
usos não podem ser generalizados, chegamos à conclusão de que é necessário
analisar o conteúdo das imagens e suas repercussões. Para o mundo civilizado,
os povos exóticos e não civilizados não têm os mesmos sentimentos e eles perdem
com muita facilidade seu direito à imagem. Quanto mais remota e distante for
uma população, mais facilmente seu sofrimento tem possibilidades de ser
transformado em cartão postal. Quanto mais remota e distante for a pobreza, no
tempo e no espaço, mais facilmente ela será objeto de produção artística.
O objetivo do curso é refletir sobre a percepção dos
impactos causados por uma imagem, tarefa que pode nos permitir um maior
controle sobre mensagens midiáticas. Na contramão do espetáculo vazio de
sentimentos, imagens podem ser trabalhadas para produzirem empatia e
solidariedade.
Aula 1
Abril 8 Apresentação
do curso
Aula 2
Abril 15 História e
Memória
Filme: Antes da chuva. 1994. Diretor:
Milcho Manchevski
Aula 3
Abril 22 A construção das memórias
Jelin, Elizabeth. 2002. Los
trabajos de la memória. Madrid/Buenos Aires: Siglo XXI Editores.
Castro, Hebe Maria Mattos de. 2006. ‘Remanescentes das comunidades dos quilombos: memória do cativeiro e políticas de reparação no Brasil.’ Revista USP (68): 104-111. http://www.historia.uff.br/culturaspoliticas/files/hebe1.pdf. Acess 4/11/2011
Aula 4
Abril 29 A invenção das tradições
Hobsbawn,
Eric & Ranger, Terence (orgs). 1997. A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
Aula 5
Maio 6
Memória e esquecimento
Pollak, Michael. 1989. Memória, Esquecimento, Silêncio. Estudos Históricos 2 (3) 3-15.
Aula 6
Maio 13 Os
lugares da memória
Nora, Pierre (ed.). 1984,
1986, 1992. Os lugares da memória. La République.1; La Nation 2; Les France 3. Paris: Éd. Gallimard.
Aula
7
Maio 20 Memória,
performances e comemorações
Castro,
Mauricio Barros de. 2010. Mestre
João Grande: na roda do mundo. Rio de Janeiro: Biblioteca
Nacional/Garamond.
Aula 8
Maio 27 A cultura da memória
Sarlo, Beatriz. 2005. Tempo
passado. Cultura da memória e guinada subjetiva. Belo Horizonte: Editora
UFMG.
Aula 9
Junho 3 Memória
e Trauma I
Filme: Hiroshima mon amour. Diretor Alain Resnais. 1959.
Leitura complementar:
Bataille, George. 1995. Concerning the accounts
given by the residents of Hiroshima. In Trauma: Explorations in memory,
ed. Cathy Caruth: 221-235. Baltimore: Johns Hopkins University Press.
Aula 10
Junho 10 Memória
e Trauma II
Levi, Primo. 1990. Os afogados e sobreviventes. Rio de Janeiro:
Paz e Terra.
Aula 11
Junho 17 Memória
e Trauma III
Seligmann-Silva, Marcio. 2000. A
história como trauma. In Arthur Nestrovski & Marcio Seligmann-Silva (orgs.)
Catástrofe e Representação. São
Paulo: Escuta. p. 73-98.
Aula 12
Junho 24 Fotógrafos de guerra
Filme: The Bang bang club (Fotógrafos de guerra). Diretor:
Steven Silver. 2011.
Leitura complementar:
Sontag, Susan. 2003. Regarding the Pain of Others. New York:
Farrar, Strauss, and Giroux.
Aula
13
Julho 1 Memoriais na América Latina
Lazzara, Michael J. 2006. Chile in Transition. The Poetics and Politics of
Memory. Florida: University Press of Florida
Aula 14
Julho 8 Memória e escravidão
Santos, Myrian
Sepulveda. 2008. The Repressed Memory of Brazilian Slavery. International Journal of
Cultural Studies 11 (2) 157-75
Aula
15
Julho
15 Último Dia de Aula – Avaliação
do Curso