Pesquisar este blog

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Ementas Eletivas 2013/1



Disciplina: Imagens de Guerra ou Representando a dor do outro
Tópicos Especiais em Sociologia XXXII, código IFCH 02 10729
Palavras-chaves: memória coletiva, mídia, representação, comunicação, escravidão, ditadura militar, memória entre gerações, violência, memoriais, fotografia.
Professores: Maurício Barros de Castro e Myrian Sepúlveda dos Santos
Número de créditos: 4 (quatro), 60 horas, 15 sessões
Período: 1º semestre de 2013 (2as feiras – 13h20 – 17h)

 Objetivo:

Como denunciar crimes contra a humanidade através de imagens. Se a representação do outro é sempre complicada, a representação da “dor do outro” é mais ainda. Quando vemos a imagem de um corpo destroçado, devemos nos perguntar quem foi o autor da imagem, qual seu propósito, para quem ela está sendo divulgada e quais os seus possíveis impactos e consequências. O que um memorial que se propõe a denunciar as torturas da ditadura militar deve apresentar aos visitantes? Como podemos trazer os grandes crimes associados à escravidão para o tempo atual?  As imagens de escravos no tronco proporcionam indignação e repúdio ou reiteram a subordinação do negro ao sistema? Se a escravidão teve seus responsáveis, quem são eles?

Lembrar para não repetir. Atrocidades que não têm registros são mais facilmente esquecidas. Crimes contra a humanidade precisam fazer parte de um imaginário coletivo, de uma consciência crítica coletiva. Contudo, lembrar é uma prática complexa. O que sentimos quando olhamos fotografias de corpos violados, feridos, mutilados por guerras, e por todo tipo de tortura? Será que todos nós sentimos a mesma coisa? Essas fotos trazem o terror para dentro de nós ou proporcionam uma curiosidade mórbida? Elas nos tornam solidários com as vítimas ou nos distanciam delas? Elas causam sofrimento ou servem apenas para liberar emoções de indivíduos robotizados, que não são mais capazes de sair às ruas e enfrentar o perigo da vida? Imagens de guerra denunciam o terror ou simplesmente o reiteram e o banalizam? Elas chocam o observador ou tornam o terror familiar ao reproduzi-lo à exaustão?

Como lidar publicamente, e por meio de imagens, com a dor do outro? Quem expõe o corpo dilacerado preocupa-se com a dor que estas imagens provocarão naqueles que são próximos da vítima? O corpo dilacerado tem nome e identidade? Como seria fotografar e divulgar corpos em sofrimento de pessoas próximas? O que separa o desejo da denúncia da indecência do co-espectador?

Se partirmos da premissa de que imagens, sejam elas de fotografias ou filmes, não são leituras neutras do real e que seus efeitos e usos não podem ser generalizados, chegamos à conclusão de que é necessário analisar o conteúdo das imagens e suas repercussões. Para o mundo civilizado, os povos exóticos e não civilizados não têm os mesmos sentimentos e eles perdem com muita facilidade seu direito à imagem. Quanto mais remota e distante for uma população, mais facilmente seu sofrimento tem possibilidades de ser transformado em cartão postal. Quanto mais remota e distante for a pobreza, no tempo e no espaço, mais facilmente ela será objeto de produção artística.

O objetivo do curso é refletir sobre a percepção dos impactos causados por uma imagem, tarefa que pode nos permitir um maior controle sobre mensagens midiáticas. Na contramão do espetáculo vazio de sentimentos, imagens podem ser trabalhadas para produzirem empatia e solidariedade.
Aula 1
Abril 8        Apresentação do curso

Aula 2
Abril 15        História e Memória
Filme: Antes da chuva. 1994. Diretor: Milcho Manchevski

Aula 3
Abril 22           A construção das memórias 
Jelin, Elizabeth. 2002. Los trabajos de la memória. Madrid/Buenos Aires: Siglo XXI Editores.
Castro, Hebe Maria Mattos de. 2006. ‘Remanescentes das comunidades dos quilombos: memória do cativeiro e políticas de reparação no Brasil.’ Revista USP (68): 104-111. http://www.historia.uff.br/culturaspoliticas/files/hebe1.pdf. Acess 4/11/2011

Aula 4           
Abril 29           A invenção das tradições
Hobsbawn, Eric & Ranger, Terence (orgs). 1997. A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

Aula 5
Maio 6           Memória e esquecimento
Pollak, Michael. 1989. Memória, Esquecimento, Silêncio. Estudos Históricos 2 (3) 3-15.

Aula 6
Maio 13           Os lugares da memória
Nora, Pierre (ed.). 1984, 1986, 1992. Os lugares da memória. La République.1;  La Nation 2;  Les France 3. Paris: Éd. Gallimard.

Aula 7
Maio 20          Memória, performances e comemorações
Castro, Mauricio Barros de. 2010. Mestre João Grande: na roda do mundo. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional/Garamond.

Aula 8
Maio 27          A cultura da memória
Sarlo, Beatriz. 2005. Tempo passado. Cultura da memória e guinada subjetiva. Belo Horizonte: Editora UFMG.

Aula 9
Junho 3           Memória e Trauma I
Filme: Hiroshima mon amour. Diretor Alain Resnais. 1959.

Leitura complementar:
Bataille, George. 1995. Concerning the accounts given by the residents of Hiroshima. In Trauma: Explorations in memory, ed. Cathy Caruth: 221-235. Baltimore: Johns Hopkins University Press.

Aula 10
Junho 10          Memória e Trauma II
Levi, Primo. 1990. Os afogados e sobreviventes. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

Aula 11
Junho 17           Memória e Trauma III
Seligmann-Silva, Marcio. 2000. A história como trauma. In Arthur Nestrovski & Marcio Seligmann-Silva (orgs.) Catástrofe e Representação. São Paulo: Escuta. p. 73-98.

Aula 12
Junho 24         Fotógrafos de guerra
Filme: The Bang bang club (Fotógrafos de guerra). Diretor: Steven Silver. 2011.

Leitura complementar:
Sontag, Susan. 2003. Regarding the Pain of Others. New York: Farrar, Strauss, and Giroux.

                        Aula 13
Julho 1            Memoriais na América Latina
Lazzara, Michael J. 2006. Chile in Transition. The Poetics and Politics of Memory. Florida: University Press of Florida

Aula 14
Julho 8          Memória e escravidão
Santos,  Myrian Sepulveda. 2008. The Repressed Memory of Brazilian Slavery.  International Journal of Cultural Studies 11 (2) 157-75

Aula 15
Julho 15          Último Dia de Aula – Avaliação do Curso